quarta-feira, 27 de março de 2019

Quando arte e ciência se encontram


Ator e psicólogo, Carlos Arruza fala sobre o trabalho nas duas áreas
Com 50 anos e quase 30 de carreira, Carlos Arruza é um dos mais conhecidos e queridos atores do cenário do teatro musical. Com espetáculos como “Comunità – um musical italiano”, “Mamma Mia”, “Ou tudo, ou nada” e “Noviça Rebelde” no currículo, o artista se destaca no segmento.
 - Comecei muito cedo, aos 19 anos, estreando no Teatro João Caetano (RJ) com a peça “Os Três Mosqueteiros”, porém a minha formação foi aos 23 anos pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) – diz Arruza.
No entanto, o que muitos não sabem é que o ator tem outro trabalho. Além de viver personagens em musicais e na TV - no ano de 2018 fez participações em “Malhação” e “O Outro Lado do Paraíso” - Arruza é também psicólogo.
Ele, que é Bacharel e tem Licenciatura em Psicologia, além de ser pós-graduado em Psicossomática Contemporânea, atua há 13 anos na função com seu consultório na Tijuca (RJ) e ministra cursos na área.

- Sou professor do curso de pós-graduação na Universidade São Camilo para as turmas de Enfermagem e Administração Hospitalar. Além disso, ministro aulas em um curso livre de atualização, na Barra da Tijuca, onde sempre levo um conteúdo que apresente a Psicologia e Teatro em um mesmo contexto, como, por exemplo, poder falar da teoria de Brecht associada aos estudos de Vygotsky – explica Arruza.

O ingresso do ator na área da Psicologia se deu quando ele foi convidado para coordenar o curso de atualização da Universidade Gama Filho no Campus Downtown (Barra da Tijuca).

- Em 2001, fui chamado para dar aulas de teatro para esse grupo de alunos que já tinha formação acadêmica e estava “reciclando” conhecimento nas mais diversas áreas. Em contato com a Universidade, o reitor me fez o convite para assumir a coordenação da equipe de professores. Minhas aulas de teatro já tinham um cunho "psi" quanto a construção de personagens, então não tive dúvida de que este era o momento exato para aprofundar o que já fazia apenas com base nas teorias de Stanislavsky, Brecht entre outros teóricos do teatro. A palavra "construção" sempre foi a chave para o processo do ator e na Psicologia o termo "desconstrução" reforça esse processo. Conheci, entre todas as escolas, a Esquizoanálise que evidencia o conceito de que somos corpos em eterna adaptação, não obedecendo nenhuma estrutura pré-determinada. Como pós-graduado, embarquei na psicossomática contemporânea, que também desconstrói a psicossomática médica, apresentando uma visão holística sobre a existência e seus fenômenos – diz ele.

A formação como psicólogo ajuda na construção de personagens. Segundo Arruza, atuar exige um estudo de perfil psicológico (não é uma regra para todos os diretores) e a Psicologia é uma ferramenta que sempre facilita na construção do personagem, quando bem consultada.

- Para a criação de um personagem, costumo utilizar a Psicologia para a construção daquele perfil. Já como psicólogo, posso dizer que, como em qualquer profissão, precisamos organizar nossa rotina de forma sistemática com direito a muitos improvisos, e isso é semelhante à rotina do ator – explica Arruza.

Mas, quando tem que escolher entre as duas profissões, o lado ator fala mais alto. No momento, Arruza produz seu primeiro musical, chamado “Um Tamanduá Bandeira Formigável”, uma história infantil que irá contar com Hugo Bonemer, Thati Lopes e Claudio Tovar em seu elenco.

- As duas áreas são fascinantes, mas como o Teatro começou muito mais cedo, acredito que tenha virado algo mais forte na minha identidade profissional. A Psicologia surge como a cereja do bolo – finaliza o galã.

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