De Margarete A. Chinaglia *
As
famílias que convivem com os portadores do Transtorno de Déficit de
Atenção e Hiperatividade (TDAH) percorrem um labirinto com muitas
entradas e becos escuros até encontrar a luz no fim do túnel. O início é
marcado quase sempre por uma fase cheia de interrogações e os caminhos
são tortuosos até a evolução para a saída.
A
pura e simples distração da minha filha como também o chamar e não ser
atendida da primeira vez eram situações que me deixavam frustradas. Na
escola, era comum ela esquecer ou perder os materiais. Ela também era
mais lenta que as outras crianças na execução das tarefas ou
simplesmente deixava as tarefas pela metade.
A
minha primeira reação foi me perguntar se havia algo errado ou não. Mas
com o passar do tempo, vi que não era normal. Depois de uma sugestão da
escola para realizar uma avaliação psicológica e posterior consulta
médica, recebi o resultado final de TDA (Transtorno de Déficit de
Atenção). Para o pai e a mãe, a difícil aceitação de que tem algo de
errado com o filho (a) e a indignação também fazem parte do processo.
No
entanto, temos de seguir em frente. É preciso aceitar, contar para
família, escola e amigos. Buscar auxílio médico e estudar bastante para
entender sobre como ajudar a criança. Na minha época, havia poucos
livros. Hoje, temos mais recursos para pesquisar.
A
primeira lição é que o TDA vai muito além das dificuldades na escola
com cálculos ou em matérias teóricas. Por exemplo, é comum a criança
ficar abalada emocionalmente por conta de bullying. Alguns se sentem
excluídos dentro da sala de aula, o que gera baixa autoestima e
depressão.
Por
isso, o acompanhamento dos pais é fundamental. É importante saber que
dia após dia aparecem novas dificuldades. A adolescência também traz
novos desafios. Os pais precisam de uma preparação psicológica para dar
conta, além de discernimento, conhecimento, perseverança e o mais
importante, o amor. O TDA não é fácil. Cada dia é um novo problema. Tem
que ter força e fé.
Com
a minha filha, precisei fazer o acompanhamento com uma equipe
multiprofissional, com médico, psicólogo e psicopedagogo. Em casa, o
cuidado era redobrado. Era necessário ajudar a organizar os estudos,
fazer constantes lembretes, criar cronogramas, impor rotinas entre
outras táticas.
Houve
ainda necessidade de uso de medicamento. Também fomos trocando de
profissionais e de remédios até acertar o melhor para ela. Por exemplo, a
psicóloga pode até ser boa, porém, quando a criança não se adapta, não
funciona. Tem que haver uma troca entre paciente e profissional para
acontecer a aceitação do tratamento.
Por
isso, é tão importante que os pais mostrem paciência com as
dificuldades dos filhos. É necessário saber que paciência é uma arte,
porque diante de tantas negações e reclamações, a tendência deles é
caminhar para a desistência. A vontade de ver o filho vencer derruba
qualquer barreira causada pelo cansaço.
Acredite
sempre no poder do amor e da insistência. O reconhecimento dos filhos
pode até demorar, mas ele vem. Entenda também que a luta contra o
transtorno não tem um final. O que há é o entendimento e a aceitação da
condição, além da certeza de que a pessoa pode ser feliz e realizar tudo
o que quiser.
(*) Autora do livro “Transtorno do Déficit de Atenção – TDA: sob o ponto de vista de uma mãe”
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