quinta-feira, 21 de março de 2019

THE BOMBERS - ACHADOS E PERDIDOS






Fotos por Larissa S. Lima



Entrevista por Sharon Sevilha

       Nesta tarde de quinta, entre uma pancada de chuva e outra, conversamos com Matheus Krempel, vocalista e guitarrista do The Bombers, sobre o novo EP, ACHADOS E PERDIDOS. Confira!

ROCK & + : Então, a gente quer saber do EP novo, o ACHADOS E PERDIDOS, como foi que vocês escolheram as músicas, o porquê de só músicas em português, se os álbuns anteriores, o EMBRACING THE SUN, o ALL ABOUT LOVE, o EMBRACING THE MOON tem, em sua maioria, só músicas em inglês, de que época são estas músicas e que você falasse um pouquinho de cada uma. 

MATHEUS KREMPEL: Vamos lá! Este ACHADOS E PERDIDOS, é, na verdade, um apanhado de músicas  pra um disco que a gente lançou em 2007, que a gente acabou chamando, na época de DEMOCRACIA CHINESA. Porque na época, tinha a lenda de que o disco do Guns nunca ia sair, que era o CHINESE DEMOCRACY. E a gente começou a fazer o nosso em 2002 e a gente foi arrastando: 2002, 2003, 2004, 2005, 2006...

ROCK & +: E o Guns, por sua vez, também arrastando o deles.

MATHEUS KREMPEL: É, aí todo mundo começou a zoar, porque a gente não lançava nada desde 1998, "porra, e esse disco que vai sair aí e não existe?" Só que a gente tocava uma música ou outra em show, mas por um milhão de problemas, de motivos, a gente acabou demorando para fazer, então é o nosso CHINESE DEMOCRACY, aí a gente usou esse nome  e a gente lançou o nosso antes do Guns.

ROCK & +: Então todas essas músicas estão no CHINESE DEMOCRACY de vocês?

MATHEUS KREMPEL: É, elas estavam lá

ROCK & +: E este disco saiu físico?

MATHEUS KREMPEL: Na verdade, ele saiu físico... a gente não sabia fazer as coisas direito, então acabou saindo sem capa, parecia um cd promocional. E a capa ficou pronta e aí a gente já tinha acabado a turnê e a gente fez aí mais uns dois shows, a gente fez o Zona Punk Tour e fizemos um show em Santos e a banda acabou. A gente deu um tempo, brigou, se separou em 2008 e esse disco acabou meio que ficando por aí. Com o passar do tempo, eu tinha meio que vergonha de umas letras que foram meio esquisitas, meio bosta, mas ao mesmo tempo, tinham músicas que eu achava legais, que eu acho que ajudaram a compor, que fizeram parte da evolução do som da banda para chegar no ALL ABOUT LOVE. Então, o Fernando que tocava comigo, na época do ALL ABOUT LOVE, no baixo, eu lembro que ele falava "porra, meu, tem muita coisa do DEMOCRACIA aqui, no ALL ABOUT LOVE, né? Coisas que você começou a mexer lá e essas ideias agora estão sendo melhor trabalhadas." Então a gente tem que dar uma chance para isso, só que essas músicas não tinham como trabalhar, aí, conversando com o pessoal da HBB, eles falaram "porra, tem umas músicas legais, por que vocês não lançam..." E deu a ideia de a gente remasterizar, dar uma tratadinha no som, e a gente deu uma tratada, e o pessoal do estúdio Miopia fez a arte da capa e a gente finalmente deu a luz e colocou nas plataformas e deu um tratamento de acordo com essas músicas...

ROCK & +: Então o CHINESE DEMOCRACY, lá atrás, seria o rascunho e agora o ACHADOS E PERDIDOS é a obra final.

MATHEUS KREMPEL: Foi engraçado porque a gente achou um HD com todos os arquivos, tinha um monte de coisas para a gente mexer e ainda tem, mas agora a gente já pode encerrar o assunto e falar beleza. E tem um outro motivo além desse de ajudar a justificar a carreira e completar a discografia nos serviços de streaming, também tem a questão do que a gente está compondo agora. No EMBRACING THE MOON, a gente já sinalizou com três em português, no EMBRACING THE SUN tem uma, que é UMA ÚLTIMA ESTAÇÃO, a gente já tinha gravado um cover dos Titãs, uma versão de DESORDEM e agora 99,9% do que eu estou compondo é em português. Aí, eu pensei: perfeito, porque já começa a preparar a cabeça das pessoas...

ROCK & +: Para elas aceitarem o Bombers, agora, em português. Tem algum motivo específico?

MATHEUS KREMPEL: Tem. Um motivo bem particular meu. Não é por pressão de nada. Tem alguns motivos. Primeiro, eu já não aguentava mais fazer letra em inglês e ter que levar para alguém revisar: isso era um saco! Você faz a letra, acha que está tudo certo, leva a letra para revisar...

ROCK & +: E estava tudo errado!

MATHEUS KREMPEL: Não, ou tem alguma coisa errada ou aquela palavra que vão me pedir para mudar, às vezes, muda todo o sentido, muda a métrica e muda a melodia, dá uma raiva... Aí você tem que se preocupar em escrever direitinho, em fazer a pronúncia direitinha e soar legal e ter a ver... é muita coisa! Por mais que eu acredite que eu tenha um bom conhecimento do inglês, começou a não ser natural para mim, começou a me dar muito trabalho e eu só estava querendo me expressar! Porque, até então, a maior barreira era produzir as músicas e poder lançar. E graças a Deus e à HBB e ao Gustavo Trivela e todo mundo que participou e se envolveu com a banda de 2014 até agora... o que a gente já lançou de música nesses últimos cinco anos é três vezes o que a gente  lançou...

ROCK & +: Na carreira toda!

Matheus Krempel: Eu pensei, pô, eu preciso me expressar, eu sei que eu posso, agora é uma coisa que eu não sei se vou fazer de novo, eu sei que eu vou fazer e vou ficar fazendo pra caralho. Então eu comecei a buscar uma evolução em letra e me expressar melhor em português porque é mais fácil, é basicamente por causa disso e porque eu não tenho mais vergonha. Porque eu também canto em inglês porque eu tinha vergonha de as pessoas descobrirem o que eu penso, o que eu estava passando. Era uma sessão de terapia, óbvio, sempre foi. Sempre que eu tinha alguma coisa e eu precisava resolver, foi sempre compondo e fazendo alguma coisa: em português, eles iam descobrir e iam ficar rindo da minha cara.

ROCK & +: Em inglês, muita gente ia ouvir, curtir o som e não saber do que você estava falando.

MATHEUS KREMPEL: Não sabia! Os meninos que eram punks, os meninos que eram skin heads, iam lá no show e ficavam tipo, eu cantando "I just wanna back home", eu só quero voltar pra casa, eu tô cansado de tudo, dos relacionamentos que eu estava tendo que estavam acabando comigo, e os caras "Eeeeeeê, OI, OI, OI" Tá bom, então! Quando a gente fez o negócio em português, na época, inclusive foi um divisor de águas, eles se sentiram meio traídos, "pô, mano, o bagulho tá maior Capital Inicial..." Capital Inicial é legal, velho, "tá louco!!" Eu falei, ah, moleque, vocês são muito loucos, vocês não manjam nada de rock, dá licença. Aí hoje é isso, eu me sinto à vontade para falar: quer saber? E também porque eu sinto que o pessoal, hoje em dia, anda buscando letras e as pessoas andam se identificando com isso. E como eu comecei a me sentir mais à vontade com as minhas palavras, principalmente quando eu estava escrevendo uma coluna para o GUITAR TALKS, o HEY AMIGOS, aquilo era tanto feedback positivo que eu recebia, tipo "porra, me identifiquei pra caralho com isso...", eu fiquei, porra, por que é que eu vou ficar perdendo tempo fazendo texto, já que eu entendi que eu consigo meio que me comunicar com as pessoas com as minhas palavras, vou tentar juntar isso com a música para estabelecer uma conexão melhor com as pessoas que forem ouvir o que eu tô fazendo. Sei lá, acho que é isso.

ROCK & +: Eu queria que você falasse mais um pouquinho da história de cada música. SEMANA SEM VOCÊ é sobre o quê?

MATHEUS KREMPEL: SEMANA SEM VOCÊ: ah, ela é muito na cara, ela é um retrato, ela é uma letra que parece um quadro, principalmente pela primeira estrofe: "roupas jogadas pelo chão, olhos vidrados na tevê, parece domingo feriado, uma semana sem você". É muito uma imagem e é bem isso, é sobre umas palhaçadas de saudade, sobre alguma coisa, alguma pessoa... e aí é aquela sensação de você ficar uma semana meio alienado das coisas...

ROCK & +: Curtindo uma dor de cotovelo mesmo!

MATHEUS KREMPEL: É! Em abstinência.

ROCK & +: NÃO SEI NADA

MATHEUS KREMPEL: NÃO SEI NADA é sobre... Turbulências! Momento, relacionamento, tipo: sabe quando você meio que desiste de tentar entender as coisas, quando você cansa... É óbvio que quem está falando, as letras são sobre  uma pessoa de vinte e seis anos, vinte e cinco anos, uma pessoa que estava de saco cheio dos jogos de amor, essas coisas, relacionamentos, "ah, não vou ligar", aí você começa a ficar "P" da vida com essas coisas. Quer saber? Eu só sei que eu não sei nada, bato a porta do quarto, não quero te ver, vou sair para dar uma volta, mais ou menos isso.

ROCK & +: JOGADAS AO VENTO

MATHEUS KREMPEL: Foi a primeira música que eu fiz com o Trivela, a gente fez pensando nos nossos pais. Foi a primeira música que a gente escreveu juntos,  a gente escreveu em um pedaço de caixa de pizza que a gente achou na rua, aí a gente achou um lápis, ralou no chão até sair uma ponta, catou um violão e os amigos entraram para um rolê, a gente tava sem dinheiro, ficou na porta, e aí foi isso. O pessoal entrou na balada, a gente não entrou, a gente ficou fazendo a letra e aí a gente começou a escrever e os dois estavam escrevendo sobre a perda do pai, né? Aí, terminou a letra "e aí, sobre o que você tava falando? Sobre isso, e você? Também. Caralho, a gente fez a música falando do nossos pais" Os dois estavam falando a mesma coisa.

ROCK & +: Que sintonia a de vocês dois!

MATHEUS KREMPEL: É, foi a primeira música que a gente fez juntos, né? Quem diria que a gente ia ficar fazendo músicas durante... treze anos depois e a gente ainda fazendo músicas por aí.

ROCK & +: VINTE E QUATRO HORAS

MATHEUS KREMPEL: É sobre... mais uma vez. É o que eu falo, eu tenho um pouco de vergonha porque algumas são meio ingênuas. VINTE E QUATRO HORAS é sobre... azaração, assim... acho que é o nome, azaração, sei lá. É sobre vou chegar e vou fazer acontecer. "Vinte e quatro horas foram pouco pra você dizer que sim, não sei o quê". Na verdade, tem umas coisinhas por trás. Só quem frequentava a  Fun House, de quinta feira e entendia a movimentação de fila no banheiro é que vai entender o que que é

ROCK & +: E o ÔNIBUS AZUL!

MATHEUS KREMPEL: O ÔNIBUS AZUL é: quando eu tinha uma namoradinha, em Santos, eu passei uma temporada morando em São Paulo, isso em 2004, alguma coisa assim. Aí eu lembro que tinha um ônibus que era da Ultra, sei lá, da Cometa, um deles aí. Aí eu lembro que eu fui escrevendo sobre essa porra desse ônibus azul, o ônibus da Ultra me levando de Santos pra São Paulo, as curvas, que faz Norte, Sul, Leste, Oeste, é mais ou menos isso aí. Mais uma vez sobre relacionamentozinho, namoro, essas coisas.

ROCK & +: Essas coisas que fazem parte do fim da adolescência, começo da idade adulta.

MATHEUS KREMPEL: Sim, total!

ROCK & +: E dessas músicas, vai ter alguma que vocês vão fazer um clipe ou usar como música de trabalho ou o ACHADOS E PERDIDOS veio para encerrar este ciclo?

MATHEUS KREMPEL: Na verdade, a gente tinha a intenção de trabalhar em cima da SEMANA SEM VOCÊ, de fazer alguma coisa, porque por incrível que pareça, foi a primeira música da gente a ter uma circulação legal em rádio. Lá em Santos, tocava na rádio.

ROCK & +: Isso foi em que época?

MATHEUS KREMPEL: 2007

ROCK & +: E a sensação de ouvir?

MATHEUS KREMPEL: Susto! Um susto! Eu lembro até hoje do primeiro dia: eu tava lá em casa, à tarde, aí eu tava ouvindo a rádio. O Stephan, o batera, já tinha falado "levei o cd da gente lá na rádio", "tá, foda-se. Vou ficar ouvindo a rádio? Não custa nada, vai que um dia toca?" Aí tô lá, lavando a louça e eu lembro que estava tocando By The Way, do Red Hot Chilli Pepper, eu lembro  que acabou e (imita o som de uma introdução), aí, eu (faz a maior cara de susto e surpresa). Nossa, o coração veio na boca! E não tinha Instagran, não dava pra você chegar e sair postando, no máximo, tinha o Orkut, um Fotolog, mas não eram coisas instantâneas, né? Hoje em dia, se alguma coisa dessa acontece, "caralho, faz um vídeo, olha, tá tocando na rádio." E eu lembro que foi um susto, tipo: "ah!!! o que é que eu faço? Ahhh!!! Ah!!!" Aí eu lembro que eu cheguei... aí uns dias depois... pra mim, é tudo um borrão aquela época, mas eu lembro de estar em um bar, lá em Santos, e todo mundo estar comentando "pô, ouvi sua música na rádio, meu, tá demais, que não sei o quê!" Caralho, mano, a gente vai dar certo!

ROCK & +: E deu! E continua dando!

MATHEUS KREMPEL: O engraçado é que a gente não tocava ela em show, a gente não tocava.

ROCK & +: Foi a rádio que escolheu então UMA SEMANA SEM VOCÊ. Vocês mandaram o CDR para a rádio com as músicas e a rádio escolheu: vamos trabalhar esta.

MATHEUS KREMPEL: Gostaram e falaram "vamos começar a tocar", e tocou e ficava tocando. E não sei por que a gente não tocava em show ela, não sei. A gente tocou em show uma vez ou duas foi muito. Então, meio que nesta pegada de fazer justiça ao repertório, a gente precisava trabalhar essa. Porque, da época, a gente fez vídeo pra VINTE E QUATRO HORAS, fez vídeo pra NÃO SEI NADA, e a gente tocava todas essas, menos essa. Então acho que não vai rolar isso porque a gente já está concentrando forças pro próximo, mas a gente vai fazer uma sequência de shows, vai fazer uma mini "tourzinha" agora, de uns cinco shows, no Estado de São Paulo mesmo, para divulgar o ACHADOS E PERDIDOS e mostrar a nova formação.

ROCK & +: Saiu o baterista e o baixista. E você tem as datas?

MATHEUS KREMPEL: 29 de junho, no Estúdio Aurora, aqui em São Paulo, a gente vai gravar uma live session também. Dia 22 de junho no 74, em Santo André e aí tem outras três datas que a gente está fechando também.

ROCK & +: No Estado de São Paulo? Então vai ter um aqui, na capital, um em Santo André e três...

MATHEUS KREMPEL: Provavelmente, um em Santos e Americana, Campinas, por aí.

ROCK &+: Boa! É isso aí, Matheus! Sensacional! Obrigada, obrigada, obrigada!

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