Quando se pensa em Dia Internacional da Mulher, impossível não se lembrar dela: a grande dama da literatura, Lygia Fagundes Telles. Não é o caso de escrever sobre sua gigantesca vida - em todos os sentidos, posto que ela fará noventa e seis anos no próximo mês - e/ou obra, com mais de vinte e quatro livros além de participações em antologias e coletâneas. O que vamos destacar aqui é a força de algumas de suas personagens femininas. De duas, especificamente, assim o post não se torna cansativo.
A primeira pode ser chamada de a menina, já que - mesmo sendo a protagonista - a autora não lhe dá um nome. É pelos olhos dela que conhecemos o conto AS CEREJAS.
A menina mora com sua madrinha, sua tia e a empregada, Dionízia, em uma fazenda. Parece ter por volta de seus doze ou treze anos. Um dia, de surpresa, elas recebem a visita de tia Olívia e de um primo, Marcelo, dois anos mais velho do que a menina.
A madrinha não percebe, mas a menina descobre em Marcelo seu primeiro amor e, com ele, sua primeira decepção, visto que Marcelo, tão sisudo, enxerga-a como uma criança e conhece o prazer com tia Olívia em uma noite de tempestade.
A menina presencia o acontecimento entre um relâmpago e outro e cai doente. Sua força está em quase morrer de amor para renascer mulher depois de alguns dias.
A segunda personagem está no conto NATAL NA BARCA. Estão atravessando um rio a narradora, um velho e uma mulher com um bebê de um ano de idade no colo. A criança está doente e precisa ver um especialista ainda naquela noite. Durante o conto, a narradora descreve todas as situações duras que a mulher já passou: muito pobre, abandonada pelo marido, que a trocou por uma ex-namorada e com o único filho que lhe restou doente em seus braços. O outro morreu aos quatro anos de idade. Em um crescendo, a narradora vai se impressionando com a vida difícil da outra e com a calma que ela conta por tudo que já passou. Já perto da chegada, a narradora levanta o xale que cobre o rosto da criança, acredita que ela esteja morta e tenta se afastar antes que a outra perceba. É quando ela ouve a mãe comentar que ele tinha acabado de acordar, o preguiçoso. Incrédula, ela vê o bebê esfregando a mãozinha no rosto corado.
A força da mulher está em sua fé inabalável.
Força e fé que as outras incontáveis personagens de Lygia Fagundes Telles tem, mas que nos falta tantas vezes.
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