segunda-feira, 15 de abril de 2019

DEZOITO ANOS DE UM MUNDO SEM JOEY


Por Sharon Sevilha

Quando a gente fala de punk, a gente lembra de músicas contra o establishment, coturnos, moicanos, essas coisas. Tem muita gente que diz que os Ramones criaram o punk, mas não foi bem assim e esta é outra história. E se não criaram, sua forte influência é o que importa. Quem teve a oportunidade de ver - ao menos uma vez - nunca mais esqueceu. É sério: foi daqueles shows que te marcam para sempre. Um show limpo, sem firulas, sem muita conversa com o público e com o palco simples. Nada das explosões ou fogos ou chuva de papel picado que vemos nos grandes espetáculos de hoje, apenas aquela coisa crua: quatro caras no palco e one, two, three, four!

Os Ramones vieram ao Brasil quatro vezes, mas devido à pouca idade e ao medo que a minha mãe tinha em me deixar ir, só vi as duas últimas vezes: a turnê do Poison Heart e duas vezes na tour Adios Amigos. Se acontecesse alguma coisa e eu morresse, morreria feliz. E deve ter acontecido, mas como eu estava na grade, tirando a coturnada de um segurança, nada percebi.


Do mesmo jeito que ninguém esquece a primeira vez que viu os Ramones, ninguém também esquece onde estava ou o que estava fazendo quando Joey morreu. Para mim - e acredito que para a maioria dos fãs ardorosos - eles eram uns tipos de super heróis, não morreriam nunca! Quem sabe até não fariam uma turnê de retorno, embora Joey e Johnny se odiassem por causa da Linda Ramone. Para quem não sabe, Linda era namorada do Joey, mas - segundo uma antiga entrevista na extinta revista Rock Brigade, concedida por Marky Ramone, Joey não tomava banho nem trocava a cueca por mais de mês - trocou Joey por Johnny e ficou com ele até o último suspiro. Another history, voltemos ao Joey.

Nem todos sabiam que Joey tinha um linfoma. E quem sabia, acreditava que ele conseguiria superar a doença que o levou no dia 15 de abril de 2001, faltando um mês para completar cinquenta anos. O linfoma de Joey não levou só ele, mas levou muito da nossa inocência, daquela coisa de acreditar que o bem sempre vence. E o mundo ficou sem Joey. Pessoalmente, ainda sinto a falta dele. Sinto saber que todos os Ramones originais - Joey, Johnny, Dee Dee e Tommy - não estão mais aqui e que, para matar saudades, só resta ver Marky, Richie e CJ.

Cada um tem suas lembranças, mas a minha é a de que o Joey foi o único punk "bonzinho": você nem precisava olhar quem tinha escrito a canção; se fosse de amor, tipo "Baby, I love You", tinha sido o Joey. E, independente disto, quem é que você conhece que está morrendo de câncer e regrava uma canção como What a Beautiful World? Só um super herói, não é mesmo?


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