Devamrita Swami
(Trecho da obra Em Busca da Índia Védica)
(Trecho da obra Em Busca da Índia Védica)
Histórias bobinhas de reencarnação têm passagem certa por tabloides e revistas de fofoca, mas um número crescente de pesquisadores eruditos está discretamente acumulando uma formidável soma de evidências que apontam para vidas pretéritas.
A morte é o teste ácido védico. Nesse momento, examina-se o nível de consciência que cultivamos durante a vida. Esse princípio é explicado na Bhagavad-gita (8.6): “Qualquer estado de ser de que nos recordemos ao deixar o corpo, esse estado por certo obteremos”.O que é tal coisa que está mudando de corpo em vidas passadas, presentes e futuras? As marcas e o modus operandi da alma são visíveis, embora a alma em si seja invisível à visão material direta. O verso seguinte da Gita aconselha: “Aquele que mora no corpo jamais pode ser morto. Em razão disso, você não precisa se lamentar por nenhum ser vivo”.
Os textos védicos nos fornecem informações precisas sobre como a entidade viva, a alma espiritual, transfere-se de um corpo a outro. As leis védicas do cosmos entendidas como governantes dessa transmigração estão certamente longe da jurisdição de nossa ciência empírica. Parece natural, porém, que, por fim, voltaremos nossa atenção a essas leis. Nós, neste momento, descobriremos mais sobre as ramificações sociais védicas da vida após a vida. Em outras palavras, o fato de esta vida ser uma de muitas não é apenas uma realidade pessoal – trata-se de uma realidade social também. Não é preciso sermos sociólogos ou psicólogos para perceber que o conhecimento do samsara – a roda do tempo – pode moldar toda a organização e motivação da sociedade.
O que é tal coisa que está mudando de corpo em vidas passadas, presentes e futuras?
Histórias
bobinhas de reencarnação têm passagem certa por tabloides e revistas de
fofoca, mas um número crescente de pesquisadores eruditos está
discretamente acumulando uma formidável soma de evidências que apontam
para vidas pretéritas. A hipnose é uma área de investigação. Os
pesquisadores afirmam que o trabalho clínico de hipnólogos rigorosamente
científicos supera em muito os esforços de praticantes sem habilidades,
que desconhecem técnicas para prevenir fantasias. Dr. Joel Whitton, um
professor de psiquiatria da Escola Médica da Universidade de Toronto, é
um entre muitos pesquisadores altamente capacitados que utilizam a
hipnose para estudar o que as pessoas talvez conheçam de maneira
inconsciente de seu passado. Pesquisas demonstram que mais de 90 por
cento de todas as pessoas hipnotizáveis fornecem memórias que
aparentemente indicam vidas anteriores.[1]Tendo dedicado milhares de horas gravando tudo o que voluntários hipnotizados falavam sobre supostas existências passadas, Whitton encontrou uma correlação incomum entre essas memórias e as atuais experiências sobre o assunto. Por exemplo, um psicólogo nascido e criado no Canadá falara com um inexplicável sotaque britânico como criança. Ele temia quebrar sua perna, bem como viagens de avião, constantemente mordia suas unhas e tinha uma estranha fascinação por torturas. Uma vez, teve uma estranha visão de estar em uma sala como um oficial nazista, logo após operar alguns pedais. Sob hipnose, o homem relatou memórias como um piloto britânico voando por sobre a Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. Munição antiaérea quebrara sua perna e, consequentemente, fizera-o perder o controle dos pedais. Depois que seu avião caíra, os alemães o capturaram e o torturaram arrancando suas unhas, após o que ele morreu. Whitton também registrou indivíduos falando em línguas arcaicas que apenas linguistas poderiam reconhecer como norueguês antigo e uma língua mesopotâmica existente entre 226 e 651 d.C.[2]
Dr. Brian L. Weiss, graduado na Yale School of Medicine e coordenador de psiquiatria no Mount Sinai Medical Center, de Miami, escreveu um livro best-seller, Many Lives, Many Masters. Ali, descreve sua conversão de cético a defensor da reencarnação. Um de seus pacientes, enquanto hipnotizado, começou a ter uma regressão de vida passada. O incidente espontâneo induziu Weiss a fazer mais investigações. Ele diz que, desde que publicou seu livro, recebeu uma inundação de cartas de “pesquisadores no armário” – colegas psiquiatras que são investigadores secretos. Weiss diz: “Há muitos psiquiatras que me escrevem dizendo que fazem terapias de regressão há dez ou vinte anos na privacidade de seus consultórios, e pedem: ‘Por favor, não conte para ninguém’. Muitos são receptivos a isso, mas não admitirão”.[3]
A hipnose é uma das técnicas utilizadas para investigação de memórias de vidas passadas.
Os
indicadores mais convincentes e concretos são aqueles no trabalho de
Dr. Ian Stevenson. Professor de psiquiatria na Escola Médica da
Universidade de Virgínia, tem uma impecável reputação em investigação
radical e meticulosa. Em vez de hipnose, sua especialidade é entrevistar
crianças pequenas que se lembram espontânea e conscientemente de vidas
passadas. Ele sugere, devidamente, que sejamos cautelosos antes de
admitirmos evidências a partir de regressões guiadas a vidas anteriores.
Quando a mente se abre ao transe hipnótico, uma pequena faísca de uma
minúscula sugestão pode dar início a um incêndio de cenas vívidas
completamente imaginadas. Stevenson, portanto, favorece memórias que
surgem sem serem buscadas e que podem ser verificadas através de
pesquisa histórica.Durante os últimos trinta e cinco anos, reuniu mais de 2600 casos de memórias de vidas passadas, dos quais 65 relatos detalhados foram publicados. Reunindo evidências de todos os continentes, diz que esses casos são tão comuns que sua equipe não consegue ficar em dia com tamanha carga de trabalho. Casos são especialmente frequentes em países hindus e budistas do sul da Ásia, entre os povos xiitas do Líbano e da Turquia, entre as tribos da África Ocidental e, curiosamente, no noroeste dos Estados Unidos.
Em geral, as crianças têm entre dois e quatro anos quando começam espontaneamente a falar de uma vida anterior. Porque suas memórias frequentemente são ricas em detalhes, Stevenson é capaz de traçar a identidade de seu nascimento anterior e confirmar as particularidades. Algumas vezes, até mesmo levou crianças às vizinhanças do exato lugar sobre o qual elas falaram e onde ele já investigara e descobrira sobre uma pessoa que vivera e morrera em exata conformidade com a descrição das crianças. Como Stevenson observou, as crianças, sem esforço, andaram tranquilamente por uma vizinhança estranha até sua antiga casa, e lá identificaram posses, parentes e amigos.
Até o momento presente, Stevenson tem dados e casos documentados o bastante para oito livros, com muito mais por vir. Publicou estudos demonstrando que, em um teste com 387 crianças que alegavam se recordar de uma vida anterior, 141 delas tinham fobias que quase sempre correspondiam ao modo exato da morte documentada da identidade anterior que a criança lembrava. As fobias frequentemente se manifestavam entre as idades de 2 e 5 anos, algumas vezes antes de a criança começar a falar sobre uma vida anterior.
De outra perspectiva, Stevenson apresentou descobertas de uma investigação de novecentos casos envolvendo correlação biológica. Ele descobriu que 35 por cento das crianças que se lembravam de uma vida anterior tinham marcas de nascimentos ou problemas de nascença ligados de alguma forma a uma morte violenta que podia ser documentada de acordo com os relatos delas. Para alguns casos, apresentou evidências fotográficas impactantes da correlação fenomenal entre as marcas e problemas de nascimento da criança e as verdadeiras feridas da pessoa cuja vida e cuja morte violenta a criança recontava.[4]
Stevenson
descobriu que 35 por cento das crianças que se lembravam de uma vida
anterior tinham marcas ou problemas de nascimento correlatos com as
memórias.
Todo o trabalho de Stevenson nesse último projeto foi publicado em 1997. A documentação integral, Reincarnation and Biology, exigiu dois volumes de mais de mil páginas cada.[5] Antes
que os céticos pensem que a correspondência entre marcas de nascimento e
uma morte anterior é apenas coincidência, Stevenson dividiu o corpo
adulto de tamanho médio em uma grade de 160 caixas, cada uma com dez
centímetros quadrados. Colocando as marcas de pele nessa grade,
demonstra de maneira convincente que a chance de uma única anomalia ou
irregularidade correspondendo com uma só ferida é de 1 em 160. Contudo, e
quanto a casos em que mais de uma ferida e marca de pele coincidem? Ele
documenta dezoito casos em que uma criança se lembra de morte por tiro e
tem duas marcas de nascença correspondendo ao local em que a bala
entrou e ao local em que a bala saiu. Duas marcas de nascimento ligadas a
duas feridas reduzem as chances de coincidência para 1 em 25.000 (1 em
160 vezes 1 em 160).As chances de coincidência sobem astronomicamente no caso de um turco chamado Necip Ünlütaskiran. De suas sete marcas de nascimento, seis coincidem exatamente com feridas descritas em um documento médico para a pessoa falecida recordada. Além disso, Necip esfaqueara sua esposa de uma vida anterior na perna, e a ferida deixara uma cicatriz. A mulher foi identificada e tinha de fato uma cicatriz na perna fruto da violência reportada.
Além de sua descoberta de que características biológicas podem fornecer fortes evidências para a reencarnação, Stevenson também encontrou evidências claras para inferir que algum tipo de corpo intermediário e sutil existe, o qual transfere certas características da vida passada para a seguinte. Ele afirma:
Parece-me que as impressões de feridas na personalidade anterior têm que ser transportadas entre as vidas em algum tipo de corpo prolongável que, por sua vez, age como um molde para a produção de um novo corpo físico com marcas e deformidades de nascença que correspondem às feridas no corpo da personalidade anterior.[6]
Embora o trabalho de Stevenson abale as fundações da ciência moderna, o cuidado e a precisão de sua pesquisa renderam-lhe elogios dos setores mais conservadores do mundo acadêmico. Periódicos científicos de prestígio, como o American Journal of Psychiatry, o Journal of Nervous and Mental Disease e o International Journal of Comparative Sociology publicaram suas descobertas. Até mesmo a American Medical Association – insuperável em tamanho, influência e tradição – declarou oficialmente em seu periódico que Stevenson “reuniu laboriosa e objetivamente uma série de casos detalhados em que a evidência para a reencarnação é difícil de ser entendida com base em qualquer outra esfera. Ele registrou um grande volume de dados que não podem ser ignorados”.[7]
Agora que a investigação da reencarnação está cada vez mais avivada, não devemos hesitar em considerar a antiga ciência védica de como a alma transmigra para diferentes corpos e, em um estado excepcional, para além de toda dimensão material.
[1] H. N. Banerjee, em Americans Who Have Been Reincarnated (Nova Iorque: Macmillan Publishing Company, 1980), p. 195, apresenta um estudo feito por James Parejko, um professor de filosofia da Universidade Estadual de Chicago, o qual revela que 93 de 100 voluntários hipnotizados produziram possíveis conhecimentos de uma vida passada. Joel Whitton encontrou indicações em todos os seus hipnotizados.
[2] Para o trabalho de Whitton, vide Joel L. Whitton e Joe Fischer, Life Between Life (Nova Iorque: Doubleday, 1986), p. 116–27.
[3] “Entrevista: Brian L. Weiss, M.D.”, Venture Inward 6, n. 4 (julho/agosto de 1990): 17–18.
[4] Para o trabalho de Stevenson, vide Ian Stevenson, Twenty Cases Suggestive of Reincarnation (Charlottesville, VA: University Press of Virginia, 1974); Cases of the Reincarnation Type, 4 vols. (Charlottesville, VA: University Press of Virginia, 1974); e Children Who Remember Their Past Lives (Charlottesville, VA: University Press of Virginia, 1987).
[5] O último trabalho de Stevenson é Reincarnation and Biology: A Contribution to the Etiology of Birthmarks and Birth Defects, 2 vols. (Westport, CT: Praeger Publishers, 1997); sua versão condensada é Where Reincarnation and Biology Intersect.
[6] Ian Stevenson, “Some Questions Related to Cases of the Reincarnation Type”, Journal of the American Society for Psychical Research (outubro de 1974): 407.
[7] Journal of the American Medical Association, 1º de dezembro de 1975, como citado em Cranston e Williams, Reincarnation, p. x.
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