No Tocantins
O chefe dos parintintins
Vidrou na minha calça Lee
Eu vi uns patins pra você
Eu vi um Brasil na tevê
Capaz de cair um toró
Estou me sentindo tão só
Oh, tenha dó de mim
Pintou uma chance legal
Um lance lá na capital
Nem tem que ter ginasial
Meu amor
Roberto Menescal - Chico Buarque/1979
in Bye bye, Brasil
Para o filme Bye, bye Brasil, de Carlos Diegues
Como
já me livrei de notas introdutórias , péssima expressão para qualquer
tom de ensaio me sinto livre para incorrer em injustiças e tomar
catiripapos de amigos mais chegados e cometer o despretencioso
texto, dando testemunha que esse Brasil tem muito de conhecer esses
outros brasis. Ia me ater a um mapa, dividir regiões, colocar em ordem
alfabética, mas percebi que que ia incorrer em erro, escorregar no
didatismo e no melhor dizer de João Antonio, ia me tornar um "um doutor
sambudo e quiquiriqui, um litorâneo raquítico e pretencioso" que vive a
"torcer o nariz".
Resolvi
começar São Paulo, filho da terra que sou. Afinal quem é a cara de São
Paulo...Meus amigos de beberundar nas padarias do Bixiga (apelido de um
bairro central e boêmio) logo sacaram de um nome de rua, Adoniran
Barbosa mas depois... depois tem o depois e outros poréns que logo
veremos em outros intertítulos.
ADONIRAN BARBOSA, I TUTI QUANTI
Falar que Adoniran Barbosa
é a cara de São Paulo não seria nenhum absurdo,, uma vez que João
Rubinato em suas letras com sotaque e vocabulário da lígua do povo (a
errada e gostosa língua do povo como gostava Manuel Bandeira), seria
muito óbvio. Era um português conhecido por cá, como “macarrônico”
falado nas ruas do Brás e Bixiga (os dois bairros hoje com muito mais
sotaque nordestino). Ele assim como Paulo Vanzolini foram brindados com
deliciosas histórias no ensaio de Conceição Ratis, “Os Boêmios na Música Popular” publicado por este Suplemento
Cultural na edição de agosto de 2003. Mas é sempre bom relembrar a
importância dos dois. Como bem relembra Tárik de Souza em seu livro “Tem
mais Samba” (editora 34) “Sua originalidade (de Adoniran) projetou
nacionalmente um samba paulista peculiar, repleto de ‘nós fumo e
vortemo’. ‘Quem não sabe far errado não deve falar’, ironizava ele em
depoimento”.
Na
verdade Adoniran Barbosa nos idos de 50 chegou a ser chamado de o “Noel
Rosa de São Paulo”, epíteto que felizmente não pegou.’ Zuza Homem de Mello em depoimento ao livro de Ayrton Mugnaini
Jr – “Adoniran – Dá licença de contar” (Editora 34) explica que “se a
vida de Adoniran sempre esteve ligada ao rádio, é como compositor que a
sua vida em São Paulo ficará marcada para sempre. Adoniran foi o
compositor de São Paulo por excelência. Ele transformou numa obra
compreendida nacional e internacionalmente a linguagem e a vida
paulistanas. ‘Samba do Arnesto’, ‘Trem das Onze’ e ‘Saudosa Maloca’
forma a trilogia suficiente para exemplificar sua obra. Uma obra
engraçadíssima e tristíssima. De um boêmio/trabalhador,
caipira/italiano, seco/vibrante, um gozador que sofreu. Um homem triste e
alegre. Um monumental tipo popular.”
O
autor e crítico musical de “Tem Mais Samba” também relembra ainda que a
sonoridade paulista tinha a voz de Isaura Garcia, outra nascida e
criada em bairro operário, o bairro do Brás.Suas músicas pouco
recomendáveis para moças comportadas (Matriz e Filial, Só Louco, E o
mundo não se acabou, por exemplo) eram siua marca registrada, além de
seu imbatível bom humor.
Bom humor também não faltava para Paulo Vanzolini, que muito embora tenha ficado conhecido com “Ronda” e “Volta
Por Cima”, era um cronista urbano imbatível. “ Vanzolini tomava um
lotação para ir ao trabalho, e ao observar os batedores de carteira na
fila, criou o elíptico ‘Praça Clóvis’ – ‘Na Praça Clávis minha carteira
foi batida/ tinha vinte e cinco cruzeiros e o seu retrato/ vinte e
cinco eu francamente achei barato/para me livrarem do meu atraso de
vida...’”
MAS AINDA TEM OS CAIPIRAS
Muitos
acham que a cara de São Paulo é a música caipira, a toada de viola tão
cara a Mario de Andrade que as recolhia com enlevo quando era professor
no Conservatório Musical. Quando falamos dessa música caipira, evitamos
usar o termo sertanejo, hoje rótulo de músicas totalmente dissociadas
desses estilo. Musicas estas hoje pausteurizadas e tocadas para duos e
não duplas provocarem trinos e gargarejos que embalam letras repetitivas
e melosas. A velho música sertaneja, a caipira que nos referimos é
formada por cururus, modas, pagodes e cantos de trabalho, que desfilavam
desde acontecimentos políticos, a reminicências. Não faltavam as
sátiras, críticas e ainda história campônias com gados, cavalos de valor
e certa valentia. Logicamente existiam também as histórias de amor e
morte, mas dolosas, tristes para fazer as violas chorarem.
Essa música hoje rara mas que influenciou grandes compositores da MPB (Ivan
Lins, Milton Nascimento, Chico Buarque tem uma sonoridade inconfundível
– são catiras, benditos, toadas, batuques, calangos e modas de viola.
Hoje ainda faz oi som de São Paulo através de uma incansável defensora,
apresentadora de um decano programa semanal na TV Cultura (TV educativa
de São Paulo), Inezita Barroso, ou se preferirem Inês Madalena Aranha de Lima, esta grande cantora, que nasceu em São Paulo em 04 de Março de 1925.
CHICO BUARQUE - O POETA SESSENTÃO
Falando
em São Paulo a gente não podia deixar de lembrar do poeta de olhos
verdes, o sessentão mais cobiçado do carioca calçadão beira-mar e que já foi um dia o poeta irriquieto da Rua Buri, pertinho do estádio do Pacaembú, onde adorava assistir futebol.
A história é simples , no
dia 19 de junho nasce, na Maternidade São Sebastião, no Largo do
Machado, Rio de Janeiro, Francisco Buarque de Hollanda, o quarto dos
sete filhos
do historiador e sociólogo Sérgio Buarque
de Hollanda e da pianista amadora Maria Amélia Cesário Alvim.
Depois de morar no Rio de Janeiro
e uns tempos na Itália, Francisco, o Chico se muda com a família para
São Paulo (1956/1957) . Oficialmente (está na web) “sua irmã Ana de
Hollanda, a "Baía", conta que aos doze, treze anos de idade, já de volta
a São Paulo, Chico compôs ‘umas operetas’ que eram cantadas em conjunto
com as irmãs mais novas, Ana, Cristina e Pii. A família muda-se para um
casarão na rua Buri, a poucos quarteirões do estádio do Pacaembu.
Embora fosse um apaixonado torcedor do Fluminense, a camisa que seu
ídolo vestia era a do Santos. Seu nome: Paulo César de Araújo, o Pagão,
nome que Chico adota até hoje, em homenagem ao craque, quando veste a camisa
número 9 de seu time de futebol, o Politheama. Alguns amigos brincam,
afirmando que Chico só se tornou músico porque não conseguiu
brilhar no futebol.” Sorte nossa.
Chico Buarque é como diremos...um produtor de clássicos instantâneos e ao trocar o curso de Arquitetura transformou-se um
construtor com as melhores composições populares brasileiras,. É o que
se pode chamar de o Compositor do Brasil. Se por um lado era comparado
com Noel, por outro rompeu todas as barreiras, compôs em todos os ritmos
e até em outras línguas. Gênio estendeu sua obra para o teatro e para a
literatura. Completa neste mês 60 anos como um porta maior de obras sempre muito aguardadas. Unanimidade? Talvez, mas com certeza a melhor cara do Brasil.
E depois vem a história da Bahia. Ai se eu escutasse o que mamãe dizia...a gente faz o que o coração dita e decreta -
DORIVAL CAYMMI – 90 ANOS DE BRASILIDADE
Dorival
Caymmi nasceu em Salvador, Bahia, em 30 de Abril de 1914. É tudo o que
precisamos saber. Depois é só ouvir as canções e se transportar. Este é o
único inconteste, ao lado de Caribe e Jorge Amado. Por certo que a Bahia são várias bahias de ritmos densos e tambores vibrantes. Bahia é Gil,
Caetano,
Bethânia, Gal, e ainda uma montueira de trios elétricos, artistinhas
chacoalhantes, axés e ...”muita bomba!” Mastem coisa boa muito embora
alguns
críticos perguntam se no baticum Bahia pode virar Jamaica. Goli
Guerreiro em seu livro “Trama dos Tambores – Amúsica afro-pop de
Salvador “ (editora 34) esclarece essas nossas dúvidas em uma pesquisa que não deixou couro sobre couro e passou de beco em beco. Por isso mesmo Caymmi reina absoluta, e melhor, nos deu Nana, Dori e Danilo. Quer mais?
Dorival
está sendo festejado pelos seus 90 anos...nem parece. Está ali a face
calma, a voz potente. Compositor que nos deu Acalanto;Coqueiro de
Itapoá; Dora; Samba da Minha Terra; São Salvador; Saudade da Bahia;
Saudades de Itapoã; Só Louco; Você Já Foi à Bahia?; Você Não Sabe Amar;
tantas que nem dá para escolher.
Mais
uma vez o acaso parece ser o padrinho das artes no Brasil. Em Salvador
trabalhou em muitos empregos antes de tentar a sorte como cantor de
rádio, e como compositor ganhou um concurso de músicas de carnaval em
1936. Dois anos mais tarde foi para o Rio de Janeiro com o objetivo de
realizar o curso preparatório de Direito e talvez arranjar um emprego
como jornalista, profissão que já havia exercido em Salvador. Porém , e
sempre tem um porém, incentivado pelos amigos, muda de idéia e resolve
enveredar para a música. E lá ficou.
Teve sua música "O Que É Que a Baiana Tem" incluída
no filme "Banana da Terra", estrelado por Carmen Miranda e nasceu o
sucesso. Logo após sua música "O Mar" foi colocada em um espetáculo
promovido pela então primeira-dama Darcy Vargas. Seu prestígio foi se
ampliando, passando a fazer parte do cast da Rádio Nacional, local onde
conheceu a cantora Stella Maris, com quem se casou em 1940 e permanece
casado até hoje.
Sobre
Caymmi Jorge Amado escreveu – “ Sua obra de compositor é das mais
importantes do Brasil, sua canção lírica e dramática transpôs as
fronteiras e as limitações de nosso subdesenvolvimento para
se fazer uma afirmação universal de nossa cultura, de nossa
originalidade. Sua influência sobre toda a música moderna brasileira é
mais do que evidente, e não só nos termos da chamada música popular: em
sua incomensurável riqueza vêm todos beber e aprender. Um baiano cheio de ternura, de amor ao povo e à vida, cordial e simples, glorioso e
modesto, feito de picardia e dengue, um brasileiro de sucesso mundial, Dorival Caymmi”.
Ainda no livro de sua neta Stella Caymmi “ Dorival Caymmi – O mar e o tempo” (editora
34) uma maçuda mas deliciosa biografia ficamos sabendo que conversar
com Caymmi é uma arte. “E quando isso acontece exige sua total atenção. É
datalhista. Cinematrográfico. Pinta o cenário antes de desencadear a
ação no imaginário do seu interlocutor.” È algo como as suas músicas,
uma pintura, clara brilhante. Triste ou alegre com detalhes de fundo e
cores vibrantes em cada compasso.
Dorival
é o responsável em grande parte pela imagem que a Bahia tem hoje em
dia, e com seu estilo inimitável de cantar e com composições de
construção melódica impar influenciou várias gerações de músicos brasileiros.
E
tinha aquela coisa do Rio de Janeiro, a capital federal que era também a
capital cultural do Brasil, onde todos iam se chegando e
acariocavam-se...os mineiros principalmente!
NOEL ROSA
Dizem
que a cara do Rio de Janeiro é o Carnaval, ou melhor o samba, ou talves
a marchinha, por certo isso antes da bossa-nova que é também é
samba...ou não é? O samba de raiz chegou aos tempos da eletrônica. É
sucesso na favelo e no Favela Chic. Se o samba tem origem afro, chega da
Bahia, é no Rio de Janeiro que se institucionaliza. E depois se
populariza na obra em branco de Noel Rosa. O poeta da Vila (o
bairro Vila Isabel para os puristas é a cara do Rio de Janeiro. Não só
pelos seus componentes críticos e urbanos , mas como crônicas de uma
cidade mais cordial.
Noel
de Medeiros Rosa, cantor, compositor, bandolinista e violonista.
Nasceu(11/12/1910) e morreu (04/05/1937) no Rio de Janeiro, RJ. Tivesse
vivido mais deixaria com certeza uma obra extensa e tão rica como os sambas que o eternizaram. Noel em 1929, compôs as suas primeiras músicas, dentre elas a emb
olada
Minha viola e a toada Festa no céu. Em 1930, conheceu seu primeiro
grande sucesso Com que roupa. Em 1931 entrou para a faculdade de
Medicina, sem, no entanto, abandonar o violão e a boemia. O samba falou
mais alto pois largou o curso meses depois.
Sobre ele Tárik de
Souza escreveu “Gênio (e profeta) da raça , sambista também cultor da
‘Rumba da Meia Noite’ ao rock da época, o fox-trot (‘Julieta’), Noel que
viveu num Rio de Janeiro ainda bucólico, onde o despertador podiaser o
guarda civil (que o salário atrasado), previu até o fim da malandragem
cordial. E prenunciou a guerra civil não declarada: ‘No século do
passado/ o revolver teve ingresso/ para acabar com a valentia’ (‘O
Século do progresso’ 1934)”.
Cantou um Rio urbano depois devastado por espigões e selvagerias tantas que nem o maestro Antonio Carlos Jobim pode suportar.
TOM JOBIM E VINICIUS DE MORAES
Parceiros
e apaixonados pela cidade do Rio de Janeiro o maestro e o poetinha são a
cara de um Rio mais recente. Um Rio que deixa de ser capital federal e passa a ser orgulho do Brasil , nossa maior divisa turística, beleza esta ainda sobrevivente a tantos desmandos e a essa guerra anunciada. A biografia dos dois se confunde e passa a construir uma nova memória musical da cidade.
Nasce,
em meio a forte temporal, na madrugada de 19 de outubro de 1913 , no
antigo nº 114 da rua Lopes Quintas, na Gávea,Rio de Janeiro. Em 1928
compõe, com os irmãos Tapajoz,
"Loura ou morena" e "Canção da noite", músicas de muito sucesso. O
poeta produz muitas obras e em 1954 sai a sua primeira edição de sua
Antologia Poética. É 1956, e a partir desse ano começam os "caminhos
cruzados". Convida Antônio Carlos Jobim para fazer a música do
espetáculo, iniciando com ele a parceria que, logo depois, com a
inclusão do cantor e violonista João Gilberto, daria início ao movimento
de renovação da música popular brasileira que se convencionou chamar de
bossa nova.
Anos mais
tarde, em 1962, na mesma época que começa a compor com Baden Powell .
Em agosto, faz seu primeiro show, de grande sucesso, com Antônio Carlos
Jobim e João Gilberto, na boate AuBom Gourmet, que daria início aos
chamados pocket-shows, e onde foram lançados pela primeira vez grandes
sucessos internacionais como "Garota de Ipanema" e o "Samba da
bênção"Faz ainda um Show com Carlos Lyra,na mesma boate, o Pobre menina
rica onde é lançada a cantora Nara Leão.No mesmo ano compõe com Ari
Barroso as últimas canções do grande compositor popular, entre as quais
"Rancho das namoradas".
Antonio
Carlos Brasileiro de Almeida Jobim nasceu às onze e quinze da noite de
uma terça-feira, 25 de janeiro, de 1927,. Dizem que chovia muito nesse
de seu nascimento na casados pais rua Conde de Bonfim, no bairro carioca
da Tijuca. No Villariño onde se formara a dupla Tom & Vinícius, em
1958, outro encontro histórico acontece, envolvendo a dupla e Elizeth
Cardoso. Daquela vez o padrinho foi Irineu Garcia, idealizador do selo
Festa. Tom Jobim erasem duvida, o melhor de todos os novos compositores
brasileiros.
É dessa época a sua “Sinfonia do
Rio de Janeiro” uma composição sua com Billy Blanco. A composição
buscava desenvolver a idéia musical da montanha, o sol e o mar. O disco
foi lançado em 20 de janeiro de 1960. Braguinha (João de Barro), então
na gravadora Continental escreveria “Rio de Janeiro...a montanha, o sol,
o mar....principalmente o mar, este mar boêmio que canta para embalar
as praias claras. E este sol que passeia no azul e
ardentemente beija a mais bela mulher do pais! E a montanha do Cristo
Redentor de braços abertos para a cidade e para quem vem de longe...Este
disco maravilhoso...vai encontrar um Rio um pouco mais agitado,um pouco menos boêmio, mas que, felizmente, conserva ainda, a montanha, o sol, o mar...”
Como
a primeira sinfonia, dedicada ao Rio de Janeiro, também foi encomendada
outra — no caso, pelo pianista Bené Nunes, a pedido do presidente
Juscelino Kubitschek, que sonhava com um poema sinfônico em homenagem a
Brasília, a nova capital do país, inaugurada em 21 de abril de 1961.
Acompanhado de Vinícius, que se incumbiria de escrever o recitativo da
sinfonia, Tom viajou até o Planalto Central. Consta que da viagem voltou
com os cinco movimentos de “Brasília, Sinfonia da Alvorada” na cabeça.
Talvez os dois hoje não compusessem outra com tal empenho.
Vinicius
é operado a 17 de abril de 1980, para a instalação de um dreno
cerebral. E veio a falecer na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em
sua casa, na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher.
Desaparecido ficaram os originais de Roteiro lírico e sentimental da
Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.
Em
15 de setembro de 1994, três dias após Tom Jobimgravar sua parte de um
dueto com Frank Sinatra, viajou até Nova York para submeter-se a uma
angioplastia. Num dos vários
exames a que Tom se submeteu, detectaram um tumor maligno em sua
bexiga—e uma cirurgia foi marcada para o dia 6 de dezembro, no Mount
Sinai Medical Center. No dia 8teve uma parada cardíaca, às 8h. A
segunda, duas horas depois, lhe seria fatal. Seu corpo desembarcou no
Rio no dia 9 de dezembro.
A paixão dos dois pelo Rio de Janeiro, são um exemplo do
amor pela beleza em proveito da arte, no caso a música e poesia. Não dá
para dissociar a imagem dos dois de São Sebastião do Rio de Janeiro.
E TODAS AS OUTRAS CARAS
Mineiro é gregário? Pelo sim pelo não temos o Clube da esquina! E nada mais representativo que Milton Nascimento e seus amigos para Minas
Gerais. “Noite chegou outra vez, de novo na esquina os homens estão ...
“ (Lô / Márcio Borges / M. Nascimento)". Em um inspirado texto o
mineiro Tete Monti em seu siteda web escreveria – “ o carioca criado em
Três Pontas Milton Nascimento, o Bituca, foi ganhar a vida. E
foi nesse arraial chamado Belo Horizonte que Bituca conheceu a família
Borges. No "quarto dos homens" da casa dos Borges, surgiu um estilo
musical universal. (...) Bituca e Márcio Borges iam conhecendo gigantes
da música como Wagner Tiso. Enquanto os garotos Lô Borges e Beto Guedes
devoravam discos dos Beatles, Milton encontrava Fernando Brant e "Travessia" mostrava ao Brasil com que voz Deus cantaria, se cantasse.
Para
entender que cara de Minas é essa, que não é só uma mas são muitas , a
formação de “agrupamento” musical se deu com a soma do carioca Milton ao
mineiro de Montes Claros, Beto Guedes que mais se destacou
comercialmente, juntamente com Milton e Flávio Venturini. Já Toninho
Horta é um dos maiores e melhores guitarristas do mundo e tocou em
muitos discos de Milton Nascimento. Tavinho Moura mineiro de Juiz de Fora é, como Toninho Horta, um mestre
da harmonia. Com uma forte influência religiosa é autor de "Paixão e
Fé", incluída do álbum Clube da Esquina 2. Com Milton Nascimento,
Tavinho fez o álbum Missa dos Quilombos e Sentinela. E mais os músicos
do Clube da Esquina tem Wagner Tiso, maestro e arranjador. Tiso fez
parte da banda Som Imaginário ao lado de Luiz Guedes, Fredera, Tavito,
Zé Rodrix e Robertinho. O Som Imaginário lançou a música "Feira
Moderna", dos até então desconhecidos Lô Borges e Beto Guedes no
Festival Internacional da Canção. Deu para entender ?
Mas
temos muitas outras caras e sons. Nos pampas além de Teixeirinha com os
seus churrascos vinham umas Almôndegas...formados por Kleiton e Kledir
Ramil, que nos anos oitenta, junto com Raul Elwanger deram a nota para
as coisas do sul. Parelamente as tradições foram mantidas por grupos
folclóricos e seus galpões. Artistas populares como Gaúcho da Fronteiro
mantiveram acesa a chama que nos idos sessenta era garantida pelo
Conjunto Farroupilha do qual Rolando Boldrin fazia parte.
Do
Pantanal as boas novas e o resgate da verdadeira identidade cultural
vieram através de Almir Sater que dividiu sua chalana com o ex-jovem
guarda Sergio Reis.
Do
Ceará, o óbvio Pessoal do Ceará com Rodger, Rogério e Teti, e ainda
Ednardo, Belchior, Raimundo Fagner. Da Paraíba, Elba Ramalho, Zé Ramalho
e a afinadíssima Amelinha. Do Piauí Jorge Mello. Do Pará, a agora
aportada em Portugal Fafá de Belém e o grande compositor Paulo André
Barata. E do Maranhão a sambista de swingue carioca e pitadas de carimbó
Alcione e os novos talentos como Zeca Baleiro. Da grande Amazônia a força do canto índio de Marlui Miranda.
E
por certo estamos deixando de falar muitos estados e das muitas facetas
culturais e sons espalhados dentro deste incrível caldeirão cultural. A
música rompe fronteiras, dizem que acalmam as feras, dizem que podem
unir povos.
Pois bem, fiquemos então com o poeta piauiense...
"(...)
Minha terra tem palmeiras de babaçu onde canta o buriti/e a melhor água
do mundo/e um poço/e um menino/como posso agora cantar minha
terra/estando tão longe-perto dela/como posso eu e essa miséria
louca/descobrir destruir as ruínas de lar"Todos cantam sua terra, também vou cantar a minha, Torquato Neto
Eduardo Cruz
Jornalista
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