Por Sharon Sevilha
Quem tem mais de quarenta anos e gosta de cinema, em algum momento da vida, foi ao Cine Bijou, ponto de resistência contra a ditadura nos anos sessenta e setenta. Eu, em 1987, estudante do segundo grau na escola Caetano de Campos, exatamente do outro lado da praça, "matei" muitas aulas para ver filmes lá ou no Cine Oscarito. Lembro-me bem de assistir ao Laranja Mecânica: duas infrações: "cabular" aula e mostrar um RG falso na entrada. E depois, para que ninguém desconfiasse em casa, fazer hora bebendo uma cerveja no também extinto bar Corsário e pedir para o "tio" do caixa me dar uma bala de hortelã - para disfarçar o bafo. Boa época - não existia o politicamente correto e tínhamos muito mais liberdade e muito mais responsabilidade do que os jovens de hoje.
Voltando a falar do Bijou, seu endereço será o mesmo: Praça Roosevelt, 172, mesmo lugar que até pouco tempo, era ocupado pelo Teatro do Ator - que fechou as portas. Os responsáveis são os produtores da Companhia Os Satyros, também com teatro e bar na Roosevelt, Ivam Cabral e Rodolfo Vásquez, e estes dois terão muito trabalho pela frente, pois além de reconduzir o Bijou aos seus dias de glória, precisarão arcar com um aluguel nababesco em tempos de Netflix. Só que a ideia do Bijou sempre foi e ainda é o de atrair um público completamente diferenciado do que gosta do serviço de streaming. Desde 1962, quando abriu as portas, até 1996, quando encerrou suas atividades por causa da degradação que o Centro de São Paulo vinha sofrendo, só exibiu filmes clássicos e instigantes.
O Cine Belas Artes também tem interesse nesta inauguração e ajudará na programação. E a ideia é manter a mesma tela pequena e refazer a fachada que existia nos anos setenta.
A nós, fãs da sétima arte, resta torcer para que a empreitada dê certo e - por que não? - que alguém resolva investir e trazer de volta o Cine Oscarito também. E, sonhando alto, o bar Corsário, para aquela cerveja e discussão sobre o filme recém assistido.
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